terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Abadá é o Cacete



Abadá é o Cacete
Virgilio de Souza


Disseram-me, e foi pessoa séria quem falou, que estão lenta, silenciosa e camufladamente tentando implantar “essa coisa de abadá” no carnaval carioca. Não, isso não.
Não quero ser leviano ou injusto com uma moça tão simpática e a quem tanto admiro, mas, se são verdadeiros os comentários de que nossa querida Preta, filha do Gilberto Gil, tentou criar – na moita – um “abadazinho moderno”, uma pulseirinha, coleirinha ou coisa do gênero para o carnaval carioca, só temos a dizer o seguinte: “Pretinha, aqui não dá”. Os milhares de foliões dessa cidade acham essa história de abadá a mais pura e cínica forma de exclusão social, de frescuragem. Entendemos essa coisa como enclausuramento do carnaval, aniquilamento da festa.
Em outras oportunidades outros até tentaram criar mecanismos de transformar essa festa tão alegre e espontânea em festinha privada num espaço público. A resposta das pessoas que amam esse delírio, que gostam de pular e brincar anonimamente “sem lenço e sem documento”, como diria seu conterrâneo, foi a seguinte: Abadá é o cacete!
Nós que moramos nessa cidade temos o maior carinho e respeito pelos baianos. Não temos rigorosamente nada com isso se nossos amados irmãos da “República do Dendê” ficam amarradões em pagar uma fortuna para seguir “Musas do Acarajé” e acompanhar trios elétricos. Mas essa não é nossa praia. Se lá “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”, aqui, essa história de abadá e trio elétrico é a própria morte do carnaval carioca.
Legal o fato de o nosso prefeito entrar no clima e afirmar que vai proibir os blocos que quiserem impor abadá no carnaval carioca de 2011. Como diria o velho e sábio filósofo, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa; logo, Rio é Rio, Salvador é Salvador, azeites que não se misturam. Por isso, como diria o poeta mineiro, que parece curtir mais o carnaval carioca que o baiano, “não põe corda no meu bloco, nem vem com seu carro-chefe me dar ordem ao pessoal”.
O povo dessa cidade, sem poder fazer nada, já viu o carnaval ficar enclausurado dentro do Sambódromo, um espaço destinado às céu-lebridades, à classe A e aos gringos. Nós, foliões populares, que anonimamente invadimos as ruas, queremos apenas brincar, curtir, brindar. Somos anônimos, pois a estrela maior é a festa, é a própria cidade. Não queremos ser identificados socialmente por um abadá. É simples assim.

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