sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Sujou para os sujeiras.


Ficha Limpa
Sujou para os "Sujeiras"

Para compositores políticos
oportunistas precisam "sambar"

Havia um tempo em que futebol e principalmente a seleção brasileira serviam como uma cortina de fumaça para apagar os muitos problemas enfrentados pela sociedade brasileira. Não por acaso que, inspirado pela frase “a religião é o ópio do povo”, criou-se no Brasil a máxima “o futebol é o ópio do povo”.
Mas os tempos são outros; literalmente mudaram. Mudaram tanto que – acreditem se quiser –, em meio a uma Copa do Mundo, o TSE – Tribunal Superior Eleitoral –, atendendo a uma ação popular com 2 milhões de assinaturas, aprovou o projeto de lei “Ficha Limpa”. Um iniciativa séria, que pretende dar um cartão vermelho a políticos espertalhões, que só jogam em benefício próprio e armam de todas as maneiras para ludibriar o grande árbitro deste embate, que são os eleitores.
Samba e futebol sempre tiveram tudo a ver e, em razão disso, entrevistamos personalidades do samba para saber o que pensavam sobre a limpeza que se pretende instituir na política. Nomes importantes do universo do samba gostaram e até vibram com a ideia de se criar mecanismos para limpar o cenário político nacional de seus maus atores. Nelson Sargento, Toninho Geraes, Moacyr Luz, Monarco, Wilson das Neves, Richard e Dudu Nobre falaram sobre o assunto.
Embora a matéria tenha sido feita enquanto a jabulani rolava no Mundial da África do Sul, nossos compositores mostraram que estão ligados na política e aprovaram integralmente a proposta de jogar para escanteio essa gente que só pensa em desviar verbas públicas, comprar votos, apresentar contas que não batem. Nossos compositores e grandes bambas acham que chegou a hora dessa gente sambar.
Nelson Sargento, que trava uma luta árdua em favor da aposentaria dos compositores, considera o Projeto muito oportuno e justo: “Se é para limpar, temos que limpar. Não podemos mais conviver com tanta sujeira. Agora, quem tem a capacidade de fazer essa limpeza é o povo, votando de forma correta. Não adianta tanto trabalho, tanto sacrifício e ficarmos reclamando se, na hora de votar, depositarmos confiança nessas mesmas pessoas envolvidas em escândalos de toda natureza. Esta é a oportunidade que temos de fazer uma limpeza geral. A hora é essa”. O compositor Wilson das Neves que, ao lado de Paulinho Pinheiro, é autor do samba “No dia em que o morro descer”, que fala exatamente das desigualdades sociais existentes no país, comemora a decisão do TSE em cassar os políticos “fichas sujas”:
– Isso já deveria ter acontecido há 20 anos, ou melhor, essa sujeira na política nunca deveria ter acontecido. É preciso mesmo passar um pouco esse país a limpo. Não podemos conviver com a desonestidade de pessoas que foram eleitas pelo voto, com a promessa de representar o povo, mas que, quando são eleitas agem sem nenhum compromisso, armam todos os tipos de maracutaias possíveis, confiando na impunidade. Sou totalmente favorável e acho que agora o povo tem que fazer sua parte. Não dá mais para termos como representantes pessoas sem nenhum compromisso, sem nenhuma índole ou escrúpulo. Pessoas que só pensam em levar vantagem. O TSE está fazendo sua parte. Nós, enquanto sociedade, temos que saber fazer a nossa e alijar da política essas figuras. Merecemos políticos melhores e mais íntegros – acrescenta.
O compositor portelense Monarco também acha necessária e oportuna a decisão do Tribunal Superior Eleitoral em cassar as pessoas que fizeram da política um campo fértil para a sujeira: “Agora está nas mãos do povo escolher entre o que presta e o que não presta, entre o joio e o trigo. A lei está fazendo sua parte e temos que fazer a nossa. O que não podemos mais é termos pessoas que usam a política apenas em beneficio próprio e pensando em seus interesses pessoais”. O intérprete Richard, voz de muitos carnavais e que esse ano puxou o samba da Mangueira na Marques de Sapucaí, diz que seu apoio é total e irrestrito à decisão de se cassar os políticos que, de forma descarada e sem nenhum princípio, traem a confiança do povo:
– É a coisa mais justa que poderia acontecer. Chega de corrupção, de mutretagem, de cambalachos feitos à revelia do povo. Penso que todas as pessoas públicas, que vivem do público e responsáveis pelo que é público deveriam ser mais responsabilizadas por seus deslizes. Nosso voto é de certa forma nossa esperança de um país melhor e, se alguém trai nossa confiança, trai nosso voto, tem mesmo que pagar por isso. Vou além: quando esse alguém se deixa envolver em corrupção e falcatruas, deveria ser punido de forma exemplar para que outros não voltassem a cometer o mesmo erro. Acho pouco apenas perder o direito de concorrer; a punição teria que ser muito mais criteriosa.
Dudu Nobre é outro que acha que essa coisa de punir políticos desonestos demorou muito a acontecer e que cabe agora ao povo eliminar os que só pensam em “armar” para se dar bem: “Isso demorou muito a acontecer. É inconcebível que pessoas desonestas e que pensam apenas em se dar bem continuem na política agindo em nome do povo. É muito importante essa decisão do TSE. Agora está em nossas mãos: enquanto cidadãos e eleitores, temos que fazer nossa parte e ajudar nessa limpeza”. Sempre preocupado com os problemas sociais, Moacyr Luz diz que chega a causar perplexidade se criar uma lei para barrar pessoas desonestas no universo da política:
– Acho a lei fundamental, muito importante, mas fico perplexo e sem entender o fato da sociedade ter que se unir, recolher milhões de assinaturas para criar uma lei para nos livrarmos de pessoas desonestas. Se o cara é desonesto não pode ser político, não pode agir em nome do povo. Penso que a criação dessa lei é o mínimo, nós enquanto sociedade temos que ficar atentos e eliminarmos definitivamente essa gentalha. Desonestidade não cabe na política, na música ou em qualquer lugar de nossa sociedade.
O compositor Toninho Geraes, autor de grandes sambas, dentre eles “Uma Prova de Amor” e “Já Tive Mulheres”, sucessos na voz de Zeca Pagodinho e Martinho da Vila respectivamente, é outro que se mostra atento às discussões políticas e diz aprovar totalmente a iniciativa de criar mecanismos para punir a desonestidade na política:
– Essa coisa de política e desonestidade vem de longe e é fruto dessas oligarquias, dessas pessoas que se acham donas de tudo, que pensam que têm o direito de corromper a tudo e a todos. Antes, isso só acontecia nos grotões, mas de uns anos para cá tomou conta das grandes capitais através do populismo, de diversas formas de corrupção e essa medida de cassar os fichas-sujas é altamente positiva para o país. No fundo, acho muito pouco essas pessoas apenas perderem o direito de concorrerem, mas não posso negar que se trata de um avanço. Penso que estamos num processo de evolução e, com o tempo, vamos acabar banindo esses políticos corruptos que não servem à política.

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